sábado, 16 de outubro de 2010

A CIDADE COMO UMA PIZZA

Matemática urbana e planejamento:

A CIDADE COMO UMA PIZZA

Para se entender o planejamento de uma superfície, é fundamental o critério de distribuição da terra e dos benefícios urbanos. Podemos dizer que os serviços públicos ainda privilegiam os ditos setores produtivos, cuja arrecadação vem caindo ao longo dos anos no ranking da receita dos municípios. A conscientização ambiental avança no direito à cidade e ao acesso à terra, de forma democrática e participativa, reinventando a parcela justa de terra para cada cidadão. Quinhão, Sesmarias, Capitanias Hereditárias, Parcelamentos, lotes, Cidades e quadras, foram sempre fórmulas adotadas para a distribuição do solo, das funções sociais e produtivas destinadas a sociedade.

PLANEJAMENTO E PIZZA

Como dividir a pizza e distribuir os percentuais, com parcimonialidade e justiça?
Poderemos começar por parcelar a superfície na ordem de importâncias, sociais, produtivas, ambientais, institucionais e culturais, o objetivo principal será sempre a coletividade e a qualidade de vida. Atribuir percentuais às funções já estabelecidas será uma tarefa delicada, mas não impossível.
Se pensarmos a cidade como uma PIZZA, poderemos começar a parti-la em igualdade, avaliando a distribuição dos pedaços conforme a atribuição de cada função. Deveremos refletir que por muitos anos o Poder Produtivo, vem ditando as regras na hora de partilhar a pizza, onde a sociedade acaba sempre por disputar as migalhas que sobram. Em havendo predisposição de todos os seguimentos, principalmente dos administradores e dos agentes negociadores da terra, poderemos parcelar a superfície de forma democrática e respeitosa para com o meio ambiente; assim distribuídos:

RESIDENCIAL - 45 %
Poderemos admitir que o proprietário original da terra será sempre o homem enquanto morador e usuário da superfície e que a este pertence todo o direito de ir e vir, quando bem entender. Poderemos ainda agregar algumas funções peculiares de preservação ambiental, como garantia de vida para a espécie, como a solução para os resíduos gerados na sociedade e por fim como uma distribuição democrática e irrestrita socialmente. Se estabelecermos que 50 % da superfície será reservada para a função morar, ficará mais fácil a distribuição dos outros pedaços.

REPARTINDO A GRANDE PIZZA

RESIDENCIAL................................................. 45 %
LIXO NÃO INDUSTRIAL............................... 5 %
INDÚSTRIA E GRANDES EQUIPAMENTOS............ 10 %
COMÉRCIO E SERVIÇOS.............................. 10 %
LAZER CULTURAL E TURISMO..................... 5 %
INSTITUCIONAL............................................ 5 %
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL, .............. 20 %

INDÚSTRIA - 10 %

Para a produção e toda a transformação da matéria prima, bem como a demarcação dos territórios de captação da mesma, deveremos reservar 10%, como sendo um território generoso para o desenvolvimento sócio econômico regional, que poderá expandir seu território apenas com a otimização e racionalidade da produção, não demandando de superfície para a exploração das riquezas naturais ou como reserva estratégica de áreas para a especulação e acumulação de riquezas, além destas já reservadas. Salvando-se a classificação dos diversos setores produtivos quanto ao incômodo ao meio, o percentual adotado será sempre o máximo admitido dentro da área urbana. Caberá sempre a indústria assumir o custo da preservação ambiental, pois a ela se atribui o desenvolvimento do produto e o destino final dos resíduos; cuja área de deposição será computada no percentual cabível a este setor.
Os espaços até então destinados a Parques Industriais pelos municípios brasileiros, já não se traduzem em empregos ou fonte de arrecadação, esta é a reflexão que nos leva a rever a distribuição da terra no planejamento urbano.

LIXO NÃO INCÔMODO - 5 %
O sítio reservado a resíduos classificados como de deposição ecologicamente correta, deverá estar em constante avaliação quanto a localização e duração, uma vez que o afastamento deste sítio para áreas destinadas a outras funções, será rigorosamente respeitado. A classificação dos resíduos, bem como o término do tempo de vida útil do aterro, será objeto de lei específica, sendo observada a meta ambiental para a criação e alocação do novo sítio.

COMÉRCIO E SERVIÇOS - 10%
Hoje os grandes shoppings e os conglomerados de negócios, estão ocupando e impermeabilizando a superfície, gozando ainda de prioridade nas vias e exclusividade absoluta dos serviços de infra estrutura, pois atribuem-se a estes, uma tendência para o desenvolvimento econômico. Para este setor caberá uma fatia igualmente ao setor produtivo, pensando-se no equilíbrio entre a produção e o consumo. Claro que caberá também ao quinhão resolver o espaço de tratamento dos seus resíduos, na qualidade de descartáveis ou classificados como de difícil absorção pelo meio ambiente; nunca mais transferindo o resíduo indestrutível para a responsabilidade do poder público. Estes empreendimentos além de ocuparem áreas imensas tornando-as áridas e subvertendo o conceito de lazer, ainda consomem energia de 250 residencias, cabe aqui uma séria reflexão sobre os impostos que pagamos e o tempo que investimos nosso dinheiro em infra-estrutura sem a contrapartida dos novos exploradores comerciais.


LAZER CULTURAL E TURISMO - 5 %
Qualquer sítio destinado a esta importante função urbana deverá ser visto como uma área em crescente aprimoramento e modernização de seus equipamentos. Dada à falta de formulas eficientes, para se elaborar o percentual cabível a esta modalidade, até em função da vocação e tendência dos municípios brasileiros, deveremos ser conscientes de que o percentual reservado na pizza será sempre pequeno, adotando-se como meta cultural a reciclagem de todos os espaços urbanos deficitários nas suas funções tornando-os úteis para a cultura local, o lazer do cidadão e construindo através deste setor a vocação ao Turismo de negócios. Será tarefa assumida pelos planejadores e controladores da ocupação urbana, negociar incansavelmente o aumento gradativo de espaços destinados a esta atividade como meta de desenvolvimento econômico e social.

INSTITUCIONAL - 5 %
Quer nos parecer que os últimos congressos e comissões, reunidas para discutirem as leis de uso e ocupação do solo, bem como do parcelamento, deixaram de ser considerados dois dos principais fatores de importância da vida humana na terra. O lazer cultural e o institucional, complementares à moradia e ao direito a propriedade que integram a dignidade de uma nação. Das últimas resoluções não deveremos desistir da missão de fomentar a difusão do conhecimento em todos os meios de comunicação e ainda acreditar no direito ao meio ambiente saudável, justo e equilibrado para as futuras gerações.

DISTRIBUIÇÃO E ENTENDIMENTO
Se iniciarmos por esquartejar percentualmente a cidade como uma pizza, poderemos entender melhor o planejamento urbano. Deveremos entender a distribuição da terra, como responsabilidade de todos.

RELAÇÃO/ATIVIDADE - DESENVOLVIMENTO X MORADIAS
Qualidade de vida, só será alcançada com a participação conjunta de todos os segmentos sociais e produtivos, isto será possível com uma jornada de trabalho reduzida, melhora dos equipamentos públicos, distribuição equilibrada de alvarás de uso e exploração da terra, bem como monitoramento contínuo da economia. O desenvolvimento está para a atividade produtiva, assim com a vida urbana, esta para o consumo. A qualidade dependerá sempre da harmonia entre as funções da cidade, é impossível desvincular a produtividade do personagem principal, o indivíduo, que trabalha, que habita e que progride socialmente para o bem da coletividade.

MEIO AMBIENTE - 20 %
Estes 20% da terra merecem todo o respeito das autoridades e representantes da sociedade. Este percentual será a garantia de toda a sobrevivência do homem neste imenso condomínio, chamado cidade.
Qualidade de vida não poderá ser conseguida apenas com o aumento dos impostos e obrigações e sim com a participação no direito de uso da terra, com consciência preservação do meio natural.
Portanto a industria deverá reduzir a ocupação territorial, nos países em desenvolvimento assim como ocorre nos países ricos, a tecnologia tomará o lugar da produção suja que destrói a superfície onde a vida se processa. O Brasil dispõe de uma biodiversidade rica e exuberante, colocando a altura de negociações com qualquer mundo industrializado, podendo optar pela ocupação industrial e pelo desenvolvimento tecnológico, bastando para isso encontrar nos nossos pesquisadores uma saída madura e vanguardista para nosso meio ambiente. Deveremos quantificar nossas riquezas e reservas ambientais, para sabermos mensurar o custo empenhado perante o planeta na questão da manutenção e preservação do nosso patrimônio ambiental que é de interesse mundial.

AEROPORTO - (3%) (heliporto) - Grandes equipamentos
A este equipamento destina-se a parcela de 3% que deverá ser extraída das parcelas destinadas as atividades comerciais, industriais e do turismo. Enquanto se planta a idéia de Vocação para Turismo de Negócios, os projetos Federais e Estaduais vão a caminho das privatizações no setor. Estrategicamente vão sendo implantados os benefícios que representarão encargos altíssimos para os cofres municipais e danos ambientais. Contrair dívidas para implantação de grandes equipamentos, é parte de uma avaliação abrangente tanto da inserção contextual do município quanto de sua localização geográfica, assim sendo um diagnóstico seguro incrementará o planejamento que deverá ser elaborado em função do futuro da cidade, analisadas todas as suas potencialidades e vocação. Grandes equipamento, que produz grande impacto no meio ambiente, a necessidade de qualquer investimento da envergadura de um aeroporto ou pólo de intercâmbio multi-modal, deverá ser discutida aos extremos, incluindo-se a possibilidade de intermediar com mais municípios os encargos sociais e ambientais que acarretarão tais instalações. A evolução da indústria aérea possibilita viagens rápidas pelo planeta, porém as aeronaves aumentaram em tamanho e velocidade, exigindo operações complexas, com espaços seguros e compatíveis para suas manobras.

ÁREAS RESERVADAS A DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E PESQUISAS AMBIENTAIS

Ao diagnóstico preliminar poderemos determinar a vocação do município, reservando áreas estratégicas para os desenvolvimentos econômicos, tecnológicos e de expansão comercial. Elevando a cidade a altura dos grandes projetos brasileiros para com nossos vizinhos latinos americanos. Estabelecer metas é o maior desafio para o planejamento de municípios considerados centralizadores e estratégicos. Deveremos lembrar que o planejamento urbano está regulamentado por leis federais, mas a sensibilidade dos urbanistas e outros técnicos é ferramenta essencial para identificar a potencialidade da terra e seus ocupantes.


EDISON IVANOV arquiteto e urbanista
São Paulo, 2005-03-21
e mail
: ivanov@arquitetoonline.com.br
fone: (11) 8949 4689

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